quarta-feira, 28 de abril de 2010

2 historias do deserto

Primeira historia

Poucas pessoas recomendaram ir para o deserto nessa epoca do ano. Compreensível. Se em Jaipur esta fazendo 43 graus, no deserto a temperatura não pode ser menos que 50, diziam. Ate que Nitin, nosso bom amigo indiano disse que sim, eh possivel visitar o deserto em abril - a tática eh ficar “escondido” nas piores horas do sol, e fazer os passeios a camelo no fim da tarde. De fato, funcionou. Subimos cada uma (eu, Emily e Kateryna the Ukranian muslim*) em seu camelo as 17h, quando o sol já estava beem mais ameno, e uma certa brisa subia pelas dunas de areia. Um óculos de sol e um lencinho na cabeça com certeza davam conta do recado, e depois de um curto período de adaptação, andar de camelo não foi nada mal. Eu e meu camelo Papaya nos demos muito bem, e o passeio de mais de 2 horas correu suavemente.

Esqueci de contar onde eu estava. A cidade eh Jaisalmer - o nome eh por causa do soberano rajput Jaisal, que construiu um forte enorme em 1156, onde hoje habitam 25% da população. Jaisalmer fica do outro lado do estado do Rajastao, perto da fronteira com o Paquistão. Isso significa 12 horas de trem, e se não for um trem decente, a viagem pode ser sofrida. Saimos na 6a a feira a noite, chegamos la sabado na hora do almoco. Na volta, partimos as 4 e meia da tarde de domingo, e chegamos em Jaipur 5 e meia da manha de 2a feira.

Voltando para o passeio: quando estava perto do por do sol, paramos, descemos dos camelos, e andamos um pouco pelas dunas. De la, vimos o sol saindo e muitas fotos foram tiradas. Depois, voltamos para os camelos e andamos ate umas cabanas, onde deveriamos dormir. No meio dessas cabanas, o pessoal do safari (esse passeio de camelo eh chamado de camel safari) arrumou umas mesinhas, nos serviram comida e trouxeram 3 musicos, que por uma meia hora ou mais tocaram musica folclórica do estado. No fim, apesar de já um tanto cansadas, resolvemos levar os colchoes para as dunas e dormimos por la mesmo. Excelente! Céu aberto, muitas estrelas, zero mosquitos (como eh deserto, eles não conseguem sobreviver), e ate um friozinho muito bem-vindo. No dia seguinte, acordamos, tomamos café, um banho (as cabanas tem banheiros melhores que o da minha casa! Da minha casa na India, digo) e voltamos para a cidade. Almoçamos e visitamos o forte, cheio de pequenas ruas, restaurantes e lojinhas, e com uma vista incrível da cidade toda cor de areia. Fomos para a estação e, muito satisfeitas, pegamos o trem de volta para Jaipur.

* Ver album de fotos no facebook


Segunda historia

Nem todos tiveram a mesma sorte. Logo na viagem da ida, uma das integrantes da viagem, a alemã Uli, comecou a se sentir mal. Quando iniciamos a jornada para o deserto, Uli já estava com febre, e foi levada para o hospital. O hospital era privado e, por fora, muito bonito. Por fora.

O nosso guia turístico Khem tentou ajudar Uli no hospital e comprou os remédios recomendados pelos médicos. Khem, no entanto, não sabia muito bem para o que servia cada um dos remédios. Enquanto nos 3 andavamos de camelo e tiravamos fotos, Uli passava por diversos exames e tomava remédios que desconhecia.

(Exame de sangue: geralmente, no Brasil, uma tira de borracha eh amarrada na parte de cima do braco do paciente e as veias ficam mais visíveis para que o sangue seja colhido. Aqui, o método eh outro: a enfermeira chama um cara grande, e ele aperta o seu braco com forca.)

Assim como na rua, no hospital estrangeiros recebem muita atenção. Essa atenção não vinha dos médicos e enfermeiras, mas sim dos outros pacientes e funcionários de limpeza, que de vez em quando paravam em frente a porta do quarto da pobre Uli e apenas observavam.

Uli passou a noite no hospital, e no dia seguinte fomos busca-la para podermos almoçar e visitar o forte. A enfermeira disse que o medicamento intravenoso iria demorar mais meia hora. 1 hora e meia depois, o quadro era: 4 meninas estrangeiras já bem a vontade no quarto de hospital e enxotando curiosos que paravam na porta.

No fim, nem o forte Uli visitou; estava bem quente e ela achou que era melhor poupar-se.

Ela passou 24 horas no trem e quase 24 no hospital.

Antes de eu vir pra India, uma brasileira que esteve aqui havia me dito que o deserto não era para todos. Esse foi o único pensamento que me veio a mente na viagem de volta, vendo Uli reclamar que não soh não tinha participado do safari como ainda por cima tinha gasto bastante com transporte e hospital.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Com emocao ou sem emocao?

Chegando em Agra, corremos para o Taj Mahal. Do lado de fora, ficam homens, mostrando suas carteirinhas de guias turisticos, oferecendo seus servicos. Eles comecam pedindo 200 rupias por pessoas e vao baixando o preco, sempre com a carteirinha a mostra pra deixar bem claro que eles sao guias registrados. Alguns desses homens gritavam seus precos para nos estrangeiros, e no meio dos gritos eles tambem diziam que especialmente naquele dia o Taj era de graca. Nem me comovi, porque eles gritam todo o tipo de coisa pra chamar a nossa atencao. Desta vez, no entanto, eles falavam a verdade; era o Heritage Day, e varios monumentos do mundo tem, nesse unico dia do ano, entrada gratuita. Consequentemente, o local estava bem lotado e ateh havia uma certa fila pra entrar.

A multidao, na verdade, nao foi um problema; as mulheres vestidas com saris bem coloridos e as criancas nos trajes tipicos brilhantes soh deixaram a paisagem do taj mais interessante.

Sobre a experiencia de ver e entrar no Taj, soh posso dizer que, de longe, o individuo tem a sensacao de estar olhando para uma foto no guia turistico ou cartao postal. Eu comecei a observer o palacio pensando na simetria, nas caracteristicas arquitetonicas, no processo historico, e terminei com o sentimento de que o taj eh algo familiar, intimo. Enfim, foi uma transicao do racional para o emocional, meio dificil de explicar.

Apos nos despedirmos do Taj, encaramos um calor de 40 e tantos graus e chegamos ateh Agra Fort. O forte tinha sido construido algumas geracoes anteriores a Shah Jahan (para os que esqueceram, o cara que construiu o Taj Mahal), mas foi a historia dele com o forte que ficou mais marcada. Visitamos o quarto dentro do forte onde Shah Jahan foi aprisionado por seu filho (entre os motivos da prisao, a construcao de monumentos grandiosos gastando todo o dinheiro da familia). Nesse quarto, Shah Jahan soh conseguia ver a sua criacao (o Taj) por meio de um reflexo no diamante (historia contada pelo guia – sim, desta vez contratamos um guia – e ainda nao verifiquei quais das muitas historias sao verdadeiras).

O forte tambem impressionou pelos sistemas de refrigeracao (cooling) pre-eletricidade, pelas misturas de pedra vermelha com marmore branco e pela vista incrivel da cidade.

Saldo: excelente viagem. Eh claro que, pra compensar, a viagem de volta foi bem conturbada: aproximadamente 9 horas de trem, numa viagem que deveria levar apenas 4. Mas tudo bem; isso foi soh pra dar um pouquinho de emocao.


Fotos do Taj e do forte! http://www.facebook.com/album.php?aid=2027460&id=1657453131&l=fa4621e6dd

Eu vou pra Agra eu vou

Alguns dos leitores desse blog ja sabem que fui para Agra nesse fim de semana, visitar o Taj Mahal, mas poucos sabem o sufoco que foi chegar ateh la (e sair).

Antes de ir, fomos avisadas de um protesto de uma casta inferior lutando por seus direitos. Ateh aih sem problemas. A preocupacao bateu quando disseram que esse mesmo protesto ocorreu ha 2 ou 3 anos atras, e foi bem violento. A partir dai, a viagem para Agra, inicialmente com 8 participantes, encolheu - viramos 5. Mas nao pensem que foi um impulso irresponsavel meu ter ido; pesquisamos bastante, e vimos que atualmente esse protesto esta relativamente pacifico.

Saimos de casa sabado a noite, para pegar o onibus das 22h30 para Agra. Opa!, onibus cancelado (protestantes ocupando a estrada). Da estacao de onibus para a estacao de trem, conhecemos o primeiro motorista de rickshaw simpatico e educado em Jaipur: Krishnan. Krishnan portava consigo um livrinho com depoimentos de estrangeiros em diversas linguas, e todos os depoimentos (que conseguimos ler) atestavam o bom carater de Krishnan. Nos despedimos do novo amigo, entramos na estacao de trem. Centenas de pessoas dormindo na calcada, e dentro da estacao. Apos encarar a fila, surpresa boa: conseguimos passagens para Agra, saindo dali a 3 horas. Ligamos para Krishnan e pedimos uma indicacao de um restaurante/cafe perto da estacao.

Voltando para a estacao, quase na hora do trem, pedimos ajuda a um guarda para entender qual era o nosso vagao. A resposta: "this ticket is ordinary class" (leia-se "muvuca"). Em meio a confusao, no entanto, descobrimos um oasis: um vagao da classe economica soh para mulheres e criancas. Ufa, bem melhor.

Chegando em Agra...isso vai ficar para o proximo post, porque eu acredito que os posts nao devem ser tao grandes assim; desestimula a leitura.
Obrigada para quem acompanhou ateh agora!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Aari Taari

Achei umas fotos interessantes de um trabalho de campo que fiz com a ONG. Acompanhamos a producao de aari taaris (parte do sari que as mulheres usam) na Vila Juhng. A ONG oferece treinamentos, e depois auxilia do processo producao->mercado.





42 graus celsius

As caminhadas parecem mais longas, a quantidade de agua ingerida aumenta e a agua fria do banho nunca parece fria o suficiente.
Quando chegar a 45 quero ver.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Udaipur, a Veneza Indiana

Breve post para compartilhar as fotos da minha viagem a Udaipur, bela cidade conhecida como a Veneza Indiana. Fui durante a Pascoa (infelizmente nao tive contato com nenhum tipo de celebracao de Pascoa por aqui, nem chocolate eu comi) com as roomates Aurelie e Emily.
Aurelie, que trabalha em um spa tailandes aqui em Jaipur (ela nao faz as massagens, soh faz a divulgacao e firma parcerias), recebeu dois dias antes da viagem um cliente que eh socio de um hotel em Udaipur. Resultado: ficamos hospedadas, sem custo, no hotel Hill Lake, com uma senhora vista da cidade, e um quarto aconchegante e luxuoso (luxo eh um termo relativo hoje em dia). Conhecemos alguns indianos udaipurenses, alguns turistas (muitos franceses!) e comemos muito bem. Two thumbs up!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um assunto que merece um post: atencao recebida por estrangeiros em Jaipur

Sim, agora ja estou bem adaptada a vida na India, sinto um grande carinho pelas pessoas que viraram amigos que viraram irmaos, estou suportando bem o calor (ate agora), e a pimenta ja eh digerida com mais facilidade. No entanto, ha um aspecto da minha vida cotidiana que ainda causa um certo aborrecimento. As pessoas na rua tem um grande interesse nos estrangeiros (mesmo se o estrangeiro em questao passa pela mesma rua todos os dias, duas vezes por dia, no mesmo horario), e esse interesse pode gerar reacoes que incomodam.

Eu vou tentar, nesse post, apresentar algumas dessas reacoes do povo de Jaipur em escala, da mais sutil para a mais abusiva:
1: pessoa encara o estrangeiro, e nao se intimida se o estrangeiro olha de volta, percebendo que esta sendo encarado.
2: pessoa encara o estrangeiro, e diz algo, geralmente "hi" (reacao mais comum em criancas).
3: pessoa encara o estrangeiro, diz algo, e corre atras do estrangeiro de maneira persistente, ateh que o estrangeiro de alguma atencao e diga "hi" (reacao mais comum em criancas traquinas).
4: pessoa andando de moto ou bicicleta para repentinamente, no meio da rua, encara o estrangeiro e diz algo ou ri (sim, ri; faz alguma piada pro amigo que esta na moto, e ri).
5: pessoa usa seu celular para tirar fotos do estrangeiro, de maneira nada sutil, sem realmente pedir sua permissao e sem se incomodar com o "no" ou "nahi (nao em hindi)" ou com os gritos raivosos do estrangeiro em portugues (quer dizer, em sua lingua de origem).

Quando se trata de criancas, nao ha muito problema; soh querem usar um pouco do vocabulario em ingles que aprendem na escola e falar com essas pessoas diferentes que estao andando na sua rua. Geralmente, estrangeiros respondem com um sorriso e seguem seu caminho. Por sua vez, as criancas, felizes com a interacao bem sucedida, continuarao repetindo a mesma frase ("hi", "how are you?"), na esperanca de estabelecer outra interacao, mesmo que essa nao traga nenhuma informacao nova.

A numero 5, de longe, eh a pior. Se a numero 5 nao existisse, provavelmente eu nao estaria escrevendo esse post. Na rua, no supermercado, ou onde quer que voce esteja eh possivel encontrar uma pessoa (e essa pessoa eh sempre um homem) com um celular com camera pronto para tirar uma foto do estrangeiro exotico. Malditos celulares com camera.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Safari a indiana

Domingo fiz uma pequena viagem ao Ranthanbore National Park, que fica a 4 horas de Jaipur. Quando os organizadores (um intercambista brasileiro e um belga, cujos nomes nao serao mencionados) contaram que pagariamos uma bagatela por uma viagem num carro com ar condicionado e motorista, desconfiei. Agora, 4 dias depois e passado o trauma, posso afirmar que a unica pessoa confortavel dentro desse carro era o motorista.

Um pouco sobre Ranthambore: eh conhecido por ser um parque onde vivem leoes, tigres e leopardos (fato que atrai a grande maioria dos turistas para la). Desconfiei. Ao entrar no jeep/caminhao que nos leva pelo parque, o guia turistico foi honesto o suficiente pra admitir que ele mesmo soh viu tigre 3 vezes nesse parque.

Ate entao, o passeio nao parecia prometer muito. Mas, no fim das contas, acabamos vendo uma paisagem incrivel, alguns animais interessantes (Bambi!), e a companhia nao deixou a desejar (nao faltaram turistas ingleses com roupas camufladas e chapeus tipicos turistanos). Gostei bastante, e nem mesmo a (ultra)desconfortavel viagem de volta mudou a minha opiniao sobre o otimo dia que eu tive.

A seguir, fotos. (NAO PRECISA TER PERFIL NO FACEBOOK, O ALBUM EH SUPOSTAMENTE PUBLICO).

http://www.facebook.com/album.php?aid=2025758&id=1657453131&l=e986f45812

Internet

Passei uns tempos com a internet mais lerda do mundo (ok, da Asia, vai), mas agora tentarei postar com mais frequencia novamente